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Homenageado do GP 2004 – MACUNAÍMA

Preguiçoso, manhoso, matreiro e mentiroso, desde pequeno Macunaíma não deixa de arranjar encrenca com os irmãos, principalmente com Jinguê, de quem sempre levava as esposas para “brincar”. Com a morte da mãe, os irmãos resolveram sair pelo mundo, que sempre se mostra mágico e cheio de personagens míticos. Frágil ante os perigos, salva-se por via do embuste, da mentira ou do absurdo, e pela entrega a jogos eróticos. Criado por Mário de Andrade em 1928, o “herói sem nenhum caráter” foi visto como síntese de um modo de ser brasileiro, luxurios, ávido, preguiçoso e sonhador, fundindo instinto e asfalto, primitivismo e modernismo. Em Macunaína, meio epopeia, meio novela picaresca, Mário empregou pela primeira vez fala brasileira nível culto consolidando as conquistas do Modernismo em esfera dos temas e do gosto artístico, e reelaborando literariamente temas de mitologia indígena e do folclore amazônico, fundando uma nova linguagem literária, saborosamente brasileira.

Em 1969, quando terminava a adaptação de Macunaíma para o cinema, com atuações memoráveis de Paulo José e Grande Otelo, o cineasta Joaquim Pedro de Andrade afirmava uma posição crítica frente ao Cinema Novo e ao público. Para ele, o compromisso do artista naquele momento de crise era a comunicação com a massa, levando em conta valores culturais, sociais e políticos. Macunaíma, o filme foi a realização e as sensibilidades populares e contribuir para um enraizamento definitivo do cinema como uma necessidade da cultura e da economia nacionais e estabelecer uma nova relação entre industria cultural e realização artística. Além disso, os cenário, figurinos e principalmente as cores de Macunaíma estabelecem uma nova sofisticação plástica num meio cinematográfico em que predominava os filmes em preto e branco

Nacionalista crítico, sem xenofobia, Macunaíma é a obra que melhor concretiza as propostas do movimento da Antropofagia, que buscava uma relação de igualdade real da cultura brasileira com as demais. Não a rejeição pura e simples do que vem de fora, mas consumir aquilo há de bom na arte estrangeira. Não evitá-la, mas como um antropófago, comer o que mereça ser comido. Segundo o próprio autor, Macunaíma representa “a aceitação sem timidez nem vanglória da entidade nacional” o Brasil como uma entidade homogênea, num só conceito étnico nacional e geográfico. Nesse sentido, o livro constitui uma fonte inexaurível de informações sobre línguas e lendas brasileiras, psicologia e biologia, folclore e História.