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Homenageado do GP 2012 – Carlos Reichenbach (Post Morten)

Carlos Reichenbach, Carlão, meu maior amigo, meu maior parceiro, meu ideal de cinema, com quem tudo aprendi.
Um homem muito grande com uma generosidade também tão grande quanto o seu tamanho e o tamanho de suas mãos.
Mãos grandes que afagavam lápis e papel para escrever os seus roteiros de uma única versão, pois Carlão não escrevia várias versões de roteiro.

Este grande homem foi um dos maiores cineastas deste país e dividiu o seu cinema extremamente criativo com todos, e fazia com que todos também realizassem os seus cinemas e os seus sonhos.
Aí está a sua generosidade: dividir seu talento, responsabilidades e arte com todos.

Era um cinema mais pensativo, porém, bastante criativo, e que falava de uma São Paulo e seus personagens extremamente íntimos deste diretor, os quais amava e olhava o tempo inteiro em suas caminhadas pelo bairro de Higienópolis e pela Paulista, entrando e saindo de cinemas e parando em algumas bancas de jornais que era outro grande atrativo para o mestre Reichenbach.

Reichenbach partiu, mas deixa o seu legado importantíssimo para todos nós e para mim especialmente, um aprendizado e um ensinamento de cinema e de vida que jamais pensei ter em minha vida.

Obrigada, Carlão. Obrigada pelo seu cinema e obrigada pela sua generosidade.

Vamos estar sempre juntos com você no coração.

Sara Silveira

 

Talvez o que melhor defina a obra de Carlos Oscar Reichenbach Filho seja a ideia de fazer dialogar o erudito e o popular. Missão nada fácil, mas para a qual era necessária a paixão. Paixão pelo cinema que já se manifestou tão cedo nos muitos e longos percursos de bicicleta que fazia pela cidade de São Paulo, quando ainda garoto, para conhecer todas as salas de exibição. Na São Paulo que não era sua cidade natal – afinal, nascera, em 1945, em Porto Alegre – mas para a qual se mudou logo no primeiro ano de vida e onde trilharia seu caminho profissional se tornando um dos principais nomes da cinematografia paulista. Uma trajetória que começou na Escola Superior de Cinema São Luiz, espaço de troca de conhecimento com Roberto Santos, Anatol Rosenfeld, Paulo Emílio Salles Gomes, Mário Chamie, Décio Pignatari e Luiz Sérgio Person, seus mestres. E com Ana Carolina, Rogério Sganzerla, Jairo Ferreira, Ozualdo Candeias, Fauzi Mansur, alguns de seus colegas. E ele foi parar lá, na escola, em 1965, por sugestão de outro aluno, o amigo João Callegaro. Pensava em ser roteirista, enveredou pela fotografia – apesar do alto grau de miopia que carregava – mas acabou mesmo é assumindo o papel de diretor por obra, graça e pressão de um dos seus professores: Luiz Sérgio Person que até financiou seu primeiro curta-metragem “Esta rua tão Augusta”. Mas foi outra rua que fez sua história: a Rua Triunfo onde prosperou a produção da Boca do Lixo. Era marginal, era de autor, era popular uma produção que se sintetizou em 6 curtas-metragens, 4 episódios em longas e 15 longas-metragens nas quais foi roteirista e diretor – sem contar os muitos filmes comerciais e institucionais que fotografou na primeira metade da década de 70. Ele chegou Carlos Oscar em 14 de junho e partiu no mesmo dia, 67 anos depois, conhecido como Carlão, o homem erudito de apelido popular.