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HOMENAGEM ESPECIAL – UFF

Este ano o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, fará uma homenagem especial ao departamento de cinema e vídeo da Universidade Federal Fluminense – UFF.

O curso de cinema da Universidade Federal Fluminense surgiu da desmobilização do curso de cinema da Universidade de Brasília após o golpe de 1964. Foi um momento de intensa repressão, marcado pela perseguição a professores e funcionários, muitas demissões e o fechamento de vários departamentos, incluindo o de Cinema da UnB. Três professores fundadores do pioneiro curso em Brasília—Paulo Emílio Salles Gomes, Jean-Claude Bernardet e Nelson Pereira dos Santos—retornam às suas cidades e fundaram, respectivamente, o curso de cinema da ECA/USP, em 1966 (Paulo Emílio e Jean-Claude), e o curso de cinema da UFF, planejado por Nelson Pereira dos Santos no ano de 1968. De volta a Niterói, cidade onde morava, o cineasta propôs ao então reitor da UFF, Manoel Barreto Netto, a criação de um Curso de Comunicação semelhante àquele existente em Brasília. Já com boa experiência de magistério, Nelson encontrou abrigo às suas ideias. A Reitoria disponibilizou uma sala de exibição do antigo Cassino Icaraí para iniciar as atividades e o planejamento do futuro curso. Em maio do mesmo ano de 1968, articulou-se o Setor de Arte Cinematográfica e surgiu o Instituto de Arte e Comunicação Social, que congregou a Comunicação Social propriamente dita (com suas habilitações em Cinema, Publicidade e Jornalismo) e também Biblioteconomia e Documentação. Naquele momento só existia a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, criada em 1966, e, assim, o ensino de cinema foi se firmando nessas duas escolas pioneiras.

UFF
Os professores José MarinhoNelson Pereira dos SantosSergio Santeiro e o cineasta Cláudio Assis durante um Encontro de Ensino de Cinema na UFF, em 2007.

O pontapé inicial para a criação do curso de cinema da UFF se dá com a inauguração do Cine Arte UFF, em 12 de setembro de 1968, e o início de suas atividades de extensão. Estas incluíam cursos, abertos à comunidade externa, sobre estética, história de linguagem cinematográfica, “embrião do futuro curso de cinema da UFF” segundo anunciava o programa inaugural distribuído ao público naquela histórica sessão inaugural, que exibiu o inédito longa Samson, de Andrei Wajzda.  O primeiro vestibular aconteceu em dezembro de 1968 e a primeira turma ingressou em março do ano seguinte. Além das diretrizes para o futuro IACS, Nelson realizou com os alunos o primeiro filme da universidade, um documento audiovisual institucional sobre a própria UFF. Como esse período inicial (1969-73) era também o mais duro do regime militar, para evitar qualquer possível represália, a primeira tomada foi feita com o reitor, e assim impediu-se eventuais obstáculos à execução do projeto. Com a câmera no gabinete e o discurso filmado, ficou firmado o compromisso de levar o filme até o final. E quando surgiam imprevistos durante as filmagens, a equipe chamava logo o reitor para resolver quaisquer problemas.

Embora o curso só tenha sido formalizado em 2008, já com coordenação própria, o processo de distanciamento do currículo da Comunicação Social, com a consequente autonomia, foi gestado no decorrer de quase quarenta anos de existência. Desde 1992, Cinema e Vídeo passou a ser um departamento do Instituto. Com o currículo totalmente reformulado em 2005, foi finalmente criado o Curso de Cinema e Audiovisual em 2007.  Nos últimos anos, testemunhamos a incorporação da tecnologia digital de forma articulada, a expansão para a pós-graduação e a reformulação das diretrizes e dos modos de operação, procedimentos que foram sendo desenvolvidos no decorrer do tempo.

Hoje, consagrado pela tradição e consolidado no meio acadêmico nacional como um de seus mais expressivos polos de reflexão e produção, o Curso de Cinema e Audiovisual da UFF enfrenta novos desafios, como o de sua mudança para um prédio novo e a implantação da Licenciatura em Audiovisual, iniciada em 2011, a primeira a ser criada no ensino superior no Brasil. Sua estrutura pedagógica baseia-se em uma sólida formação teórica humanística, aliada a uma ampla experimentação artística e profissional. Em conformidade com as diretrizes gerais do MEC para os cursos de graduação, são previstas 2760 horas de carga horária total, sendo 30 disciplinas obrigatórias, cobrindo 2100 horas e 660 horas de optativas.  Seus parâmetros curriculares são a formação humanística, artística, crítica, técnica, a flexibilização (com a possibilidade de ênfases em áreas ou subáreas do conhecimento, através de disciplinas optativas), o despertar da consciência social e a realização, propiciando ao aluno condições intelectuais, institucionais e materiais para o intenso exercício da produção cinematográfica e audiovisual em ambiente caracterizado pela ampla liberdade de expressão estética e ideológica, de cooperação, de responsabilidade pela qualidade da obra e pelos instrumentos de trabalho e consciência do sentido público e social dessa atividade.

Com relação aos principais conteúdos, estes compreendem os campos da teoria e história do cinema e do audiovisual, técnica e formação profissional, realização e projeto experimental de conclusão do curso. As disciplinas restantes são ministradas nas áreas de Artes e Humanidades. O Departamento de Cinema e Vídeo também oferece disciplinas optativas para outros departamentos e unidades da UFF e tem atraído um número considerável de alunos de outros cursos.

O currículo é estruturado em 8 períodos em sequência semestral, com aulas ministradas nos turnos da manhã e da tarde para o bacharelado em Cinema e Audiovisual. Para a Licenciatura são oferecidas disciplinas também no turno da noite. Para concluir o Curso é obrigatória a elaboração, pelo aluno, de uma monografia (Projeto Experimental) acerca de um tema de sua escolha, sob orientação de um docente, a ser apresentada perante uma banca. Na habilitação em Cinema é obrigatória, também, a participação do aluno em, pelo menos, um projeto de realização de filmes. Na graduação o curso conta no momento com 340 alunos matriculados. Nos últimos anos foram intensificados intercâmbios estudantis com instituições estrangeiras, permitindo que alguns alunos (inclusive através do programa Ciência sem Fronteiras) realizem parte de seus estudos no exterior. Por outro lado, também temos recebido estudantes do exterior, em especial (2013/2014) de países como a Espanha, Portugal, Alemanha, Dinamarca e Argentina.

O corpo docente do Curso de Cinema e Audiovisual é altamente qualificado, contando hoje com 17 doutores, num total de 22 professores. Esta é uma das facetas mais importantes do Curso, pelo seu marcante profissionalismo e pelas ligações que se estreitam cada vez mais com o Programa de Pós Graduação em Comunicação da UFF, mestrado e doutorado, onde se desenvolve a linha de pesquisa Estudos do Cinema e do Audiovisual, com importantes teses e dissertações já defendidas na área de Estudos Cinematográficos, várias delas já publicadas em forma de livro.

Quanto aos meios materiais, em que pese a total inadequação do atual espaço físico para as necessidades de desenvolvimento e ampliação, o curso conta com uma razoável estrutura de funcionamento, que lhe permite acolher os 60 alunos que hoje ingressam na UFF para fazer cinema e audiovisual, em duas entradas semestrais. O novo prédio que está sendo concluído no Campus do Gragoatá deverá ser inaugurado no primeiro semestre de 2015. Possibilita que sonhemos com uma ampliação significativa das atividades acadêmicas.

UFF
Filmagem da restauração dos quadros épicos das Grandes Batalhas (Guararapes e Avaí), de Pedro Américo, no Museu Nacional de Belas Artes, em 2007. A professora Elianne Ivo supervisiona a equipe de alunos da UFF no registro do depoimento do fotógrafo Mário Carneiro.

Nos últimos anos, temos desenvolvido diversos projetos ligados à Educação e geração de produtos audiovisuais com o apoio de financiadores externos como a Petrobrás, CNPq, MEC, FAPERJ, além daqueles financiados pela própria universidade. Em 2013 recebemos recursos do edital da UFF/POEXT para realizar um documentário na Unidade Avançada da UFF, em Oriximiná, Pará. Também recebemos recursos do CNPq para a realização de um documentário sobre o processo criativo dos diretores de arte brasileiros. E, ainda em 2013, fomos responsáveis pela VIII Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, realizado no Rio de Janeiro e pelo projeto Inventar com a Diferença, que visa à formação e o acompanhamento de educadores em escolas de todo o país para a realização de trabalhos audiovisuais com crianças e adolescentes em torno da temática do cinema e dos direitos humanos. Este projeto está oferecendo, neste ano de 2014, formação e acompanhamento a educadores de escolas públicas do país, para o trabalho com vídeo relacionado a questões de Direitos Humanos.

Para executar toda esta produção, hoje estabelecida em torno de 80 obras audiovisuais por ano, vídeos e filmes (16 e 35mm), o Curso conta com equipamento variado e atualizado, como câmeras de vídeo (mini-dv, dv e dvc), 2 câmeras de 16 e 35mm, 3 ilhas de edição com computadores e softwares para a finalização de filmes (edição de som, imagem, correção de cor etc.). O curso conta com um bom almoxarifado com equipamentos profissionais para a realização audiovisual (equipamentos de iluminação, fotografia, som e produção), além de um acervo de arte (com tapadeiras e mobiliário, material de consumo utilizado na produção de cenários, figurinos e maquiagem). E possui um amplo estúdio para a produção de filmes, além de cinco laboratórios: Kumã (para o desenvolvimento de projetos de pesquisa e extensão, como a Mostra de Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, entre outros); Iconoscópio (para o desenvolvimento de novos projetos de produção audiovisual); Animação (responsável pelo incremento dessa especialidade no Curso); o LIA (que cuida de geração de material multimídia, das sessões dos cineclubes e do acervo e da pesquisa sobre cinema latino-americano) e o LABORES, que oferece aos estudantes um campo de estágio profissional na área de realização, produzindo material audiovisual para clientela variada.

O curso mantém convênios com cinematecas, laboratórios, prestadores de serviços e agências de fomento, de modo a garantir o máximo de independência criativa a um menor custo, reduzido consideravelmente por esses acordos. Nesse sentido, é fundamental o apoio da Cinemateca do Museu de Arte Moderna, do CTAv/Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, assim como de várias empresas prestadoras de serviço, que, ao longo dos anos, tem participado ativamente de nossos eventos e produções.

Diplomando a média de 20 alunos por ano, a maioria dos egressos do curso têm se inserido no mercado de forma diversa, consoante a formação profissional escolhida. Assim, temos desde diretores de longa-metragem, numa proporção que aumenta a cada ano (Eduardo Valente, Bruno Vianna, Eduardo Nunes, Gustavo Acioly, Rosane Svartman, entre outros), até técnicos premiados (Mauro Pinheiro Junior, Lívia Serpa, Eva Randolph etc.), roteiristas (Paulo Halm, Alexandre Plosk, Marcelo Gonçalves, Sergio Goldenberg etc.), professores, pesquisadores, curadores de mostras nas instituições de cultura, “free-lancers”, diretores de ONG´s, distribuidores (Marcelo Mendes, do grupo Estação), curta-metragistas, entre diversas outras atividades relacionadas ao audiovisual.

Esta dispersão de ex-alunos pelo mercado é bem a expressão das diretrizes curriculares do Curso de Cinema e Audiovisual na medida em que se abrem múltiplas possibilidades de atuação profissional para o egresso, que se forma com uma informação geral sobre o audiovisual, seus processos de produção, estética, história e técnica, além de desenvolver habilidades específicas.

O Curso de Cinema e Audiovisual da UFF é associado ao FORCINE – Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual, entidade de âmbito nacional que tem levado à frente o desdobramento de bandeiras históricas do ensino de cinema no Brasil. Continua assim, na luta por sua modernização no interior da Universidade Federal Fluminense e pela consolidação do papel das instituições de ensino do audiovisual no cenário da produção de conhecimento do país.

Confira: http://www.cinevi.uff.br