Home Notícias

Morre Hugo Carvana, aos 77 anos

Ator e diretor estava internado desde o último domingo para tratar do câncer no pulmão

POR O GLOBO

04/10/2014 13:15 / ATUALIZADO 

RIO – O ator e diretor Hugo Carvana morreu neste sábado, por volta de meio-dia, no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, aos 77 anos. Ele estava internado desde o último domingo (28), conforme noticiou o site do colunista Ancelmo Gois, para tratar de complicações do câncer de pulmão, com o qual foi diagnosticado em 1996. Carvana também sofria, havia cinco anos, de Mal de Parkinson. O corpo será velado no Parque Lage, no Jardim Botânico, a partir das 9h do domingo.

Conhecido por seus trabalhos no cinema e na TV, Carvana foi homenageado na semana passada com uma sessão especial de “Vai trabalhar vagabundo”, roteirizado, produzido, dirigido e atuado por ele, no Festival do Rio. O longa sobre o arquetípico malandro carioca personificado em Secundino Meireles, lançado no auge da ditadura militar, completou 40 anos este ano.

Ator e cineasta que melhor incorporou a carioquice em seus trabalhos, Carvana foi revelado pelas chanchadas que marcaram o Brasil, mas também atuou prolíficamente no Cinema Novo. Começou aos 18 anos, como figurante em “Trabalhou bem Genival”, de Luiz de Barros. Acabou largando o emprego de office-boy e, em 1961, aos 24 anos, pegou seu primeiro papel importante no episódio “Noite de almirante”, do filme “Esse Rio que eu amo”.

No ano seguinte, conheceu o diretor moçambicano Ruy Guerra, recém-chegado de Paris, que veio ao Brasil filmar “Os cafajestes”, em que Carvana fez uma ponta. O pequeno papel resultou em novo convite de Ruy Guerra com quem fez “Os Fuzis”. A partir dos trabalhos com Ruy Guerra, Hugo Carvana se tornou um dos atores mais atuantes e solicitados do Cinema Novo.

Com Glauber Rocha, filmou “Terra em transe”, em 1967; “Câncer”, em 1968, “O dragão da maldade contra o santo guerreiro”, em 1969 e “O leão de sete cabeças”, rodado em Brazzaville, no Congo, em 1969. Atuou também em produções de Cacá Diegues (“Deus é brasileiro”, entre outras), Nelson Pereira dos Santos (“Tenda dos milagres”), Joaquim Pedro de Andradre (“Macunaíma”), Arnaldo Jabor (“Toda nudez será castigada”) e Gustavo Dahl (“O bravo guerreiro”).

Além de “Vai trabalhar vagabundo”, dirigiu também longas como “Se segura malandro”, “O homem nu” e, mais recentemente, “Casa da Mãe Joana” e “Casa da Mãe Joana II”, lançados em 2008 e 2013.

Na televisão, Carvana sentiu o peso da fama e popularidade. Após um malsucedido teste da TV Tupi, aos 17 anos, voltou ao meio em 1966 para atuar na novela “Anastácia”. Mas seu primeiro papel significativo veio em 1974, com a novela “Cuca Legal”, de Marcus Reis, na TV Globo.

Seu personagem mais marcante na TV foi o repórter policial “Waldomiro Pena”, do seriado “Plantão de polícia”, exibido na Globo de 1979 a 1981. Para se preparar para o papel, Carvana se inspirou nos jornalistas Otávio Ribeiro, o Pena Branca, e Amado Ribeiro, que trabalharam na redação da extinta “Última Hora”, do jornalista Samuel Wainer.

Ao todo foram 20 novelas, algumas marcantes como “Gabriela” (1975), dirigida por Walter Avancini, “Roda de Fogo” (1986) e “O dono do mundo” (1991), do autor Gilberto Braga.

Adepto do método Stanislavski de interpretação, também atuou no teatro, tendo participado do badalado Teatro do Estudante, comandado por Paschoal Carlos Magno. Nos palcos, participou de montagens de “O auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, “O pagador de promessas”, de Dias Gomes, e “Boca de ouro”, de Nelson Rodrigues.

AMOR PELO FLUMINENSE

Fervoroso torcedor do Fluminense, clube do qual tornou-se conselheiro, Carvana se passava por vendedor de balas e ambulante para poder entrar nos estádios e acompanhar os jogos do time. Fugiu no meio do almoço de comemoração de seu casamento para ir ao Maracanã. No dia seguinte, Nelson Rodrigues escreveu uma crônica sobre o episódio: “Esse é o tricolor verdadeiro, deixou a mulher no altar para ver a vitória do seu Fluminense”.

Figura constante nas mesas dos bares da cidade, fez amizade com nomes como Roniquito, Ary Barroso, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, foram alguns. Dessa vivência, tirou inspiração para o longa “Bar Esperança”, que mostrava um grupo de intelectuais, artistas e personalidades da noite carioca tentam impedir a demolição de um famoso bar de Ipanema, de 1983.

Carvana nasceu em 4 de junho de 1937, na Rua Dona Romana, no Lins de Vasconcellos, subúrbio do Rio. Filho da costureira Alice Carvana de Castro e do comandante da Marinha Mercante Clóvis Heloy de Hollanda, de quem ela se separou quando Carvana tinha menos de um ano, o ator cresceu na Zona Norte, entre o Catumbi, o Rio Comprido e a Tijuca.

Ainda na juventude, passou a frequentar a escola de teatro contra a vontade de sua mãe, que chegou a dizer que não tinha criado filho para ser “veado”. Carvana costumava contar que toda vez que ele chegava dos ensaios, dona Alice dizia: “Vai trabalhar, vagabundo!”, expressão que daria nome a um dos maiores sucessos de sua carreira de cineasta.

Hugo Carvana deixa a mulher, a jornalista Martha Alencar, e quatro filhos.

 

Leia mais: http://oglobo.globo.com/cultura/morre-hugo-carvana-aos-77-anos-1-14139739#ixzz3FMx2SNms